quarta-feira, 13 de julho de 2016

Homenagem a Luiza Bairros

No fim da tarde dessa terça (12/07), amigas/os, companheiras/os de luta, colegas de trabalho e políticos se reunira em frente à estátua de Zumbi dos Palmares, no centro de Brasília, para homenagear a ex-ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros.
A celebração à memória da gaúcha, radicada em Salvador, que dedicou sua vida à luta contra a discriminação racial e contribuiu sobremaneira para que essa agenda ganhasse visibilidade e centralidade nas políticas nacionais, tornou-se um ato de comprometimento com a continuidade do legado deixado por Luiza no enfrentamento ao racismo e ao sexismo ainda tão presentes em nossa sociedade.
Mãe Baiana (Adna Santos), coordenadora de Comunidades de Matriz Africana de Terreiros, da Fundação Cultural Palmares, afirmou que a ex-ministra representava a força da mulher negra.
“Luiza empoderou as mulheres negras e o próprio movimento feminista. O modo como ela conduziu a gestão pública, permitiu a participação direta dos movimentos sociais. Era uma pessoa que sabia conversar, mediar e executar políticas, sempre com muita seriedade.”
Mulheres que estiveram ao lado de Luiza Bairros no início da constituição do movimento negro brasileiro, como Maria Joana, reforçaram as palavras de Mãe Baiana. Segundo ela, que hoje representa a Frente de Mulheres Negras no Distrito Federal, as mulheres negras e as militantes do movimento negro estavam “ficando um pouco órfãs”.
Maria Luiza Júnior (Luiza de Brasília, como era conhecida no Movimento Negro Unificado – MNU) destacou que sua xará foi uma das primeiras mulheres negras a pesquisar a questão racial no Brasil. “Antes, a situação histórica do negro em nosso país era estudada por homens brancos, que se colocavam como nossos porta-vozes e tentavam dizer quem éramos. Luiza foi uma das primeiras que tomou a frente e passou a falar diretamente quem nós somos.”
A amiga pessoal de Luiza Bairros salientou que há o dedo dela nessa emergência atual do orgulho negro, visto nos cabelos, nas roupas e nos turbantes hoje tão em voga. Fez questão ainda de ressaltar que sua amiga era incompreendida por alguns e tachada de antipática, o que na verdade era reflexo da “impaciência de quem quer vencer o racismo. Por isso, se tornou dura na aparência, pois estava em luta o tempo todo.”
Várias outras pessoas fizeram questão de expressar a admiração e respeito que tinham por Luiza Bairros e os momentos compartilhados ao seu lado, entre elas o deputado federal Paulão e a ex-ministra de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci. Segundo ela, foi a partir dos esforços de Luiza que se pautou a questão racial no Governo Federal.
“Ela é responsável pela existência de cotas [raciais] em universidades públicas e no serviço público. Ela que trouxe a discussão sobre o genocídio da juventude negra. Luiza nunca tergiversava frente a disputas.”, afirmou Eleonora.
A ativista do movimento negro e coordenadora da ONG Criola, Jurema Werneck, por sua vez, frisou que Luiza Bairros “mostrou que podíamos ser mais do que a gente era, que o que a gente não aprendeu, tinha que dar um jeito de aprender, e que ninguém tem a licença para se encolher com a dor causada pela desigualdade e pelo preconceito.”
Em meio a tantas homenagens, a presidenta afastada, Dilma Rousseff, enviou nota em que se dizia consternada com a morte de Luiza e que sua luta foi sempre em favor das melhores causas da vida política nacional. Dilma concluiu dizendo sentir-se honrada pelos anos de convívio com Luiza Bairros.
Representantes de entidades e movimentos como a Marcha das Mulheres Negras e a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) também estiveram no ato, ao longo do qual se entoou por diversas vezes a frase: “Luiza Bairros, presente!”.

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